Produtores rurais de Niterói terão seu primeiro Circuito Agroecológico no Parque Rural
Com o apoio do município, eles estão de olho em um selo de qualidade para poder vender para seus produtos para a merenda escolar
Os moradores de Niterói não precisarão mais subir a serra ou mesmo andar por quilômetros e quilômetros para comprar ou saborear produtos da roça.
A cidade, que conta com uma grande área urbana, também tem seus recantos, os chamados cinturões verdes, que começam a se consolidar como espaços dedicados à agroecologia.
Com o apoio da Prefeitura de Niterói, por meio da Secretaria de Meio Ambiente, e a partir da criação do Programa Municipal de Agroecologia Urbana, os produtores rurais de Niterói terão a oportunidade de mostrar o resultado do seu trabalho durante a primeiro Circuito Municipal de Feiras Agroecológicas, que acontecerá no dia 05 de novembro, no Parque Rural do Engenho do Mato.
Ao todo 36 expositores agricultores e produtores familiares da cidade de Niterói, estarão no local. O Programa Municipal de Agroecologia Urbana de Niterói, instituído pelo Decreto 13.771/2020, criou em seu âmbito, o Circuito Municipal de Feiras, com objetivo de aproximar da população niteroiense o resultado da produção alimentar agroecológica, praticada em vários pontos da cidade, mas ainda muito pouco conhecida e difundida.
O evento de inauguração do Circuito acontecerá em clima totalmente rural, e com muito jeitinho gostoso da roça. Todos que forem ao Parque Rural poderão participar das inúmeras atrações culturais, shows de música ao vivo, oficinas de alimentação viva, de gastronomia e de compostagem, contação de histórias e brinquedos infantis, campanha de adoção de cães e gatos e provar de muitas iguarias.
Os produtores levarão o que há de melhor da produção por exemplo de cogumelos variados, frutas, legumes, brotos, temperos e verduras da estação, sucos naturais, sorvete artesanal, kombuchas, queijos e leites da fazendinha urbana.
E não para por aí. Os visitantes também poderão degustar de um queijo de cabra fabricado na Região do Muriqui, no Grande Pendotiba, que é feito com uma receita tradicional francesa. Também vai ter manteiga ghee, mel, alimentação viva e vegana direto da floresta, leite vegetal, ovos caipira, pães artesanais e de fermentação.
O Circuito gastronômico terá ainda bolos, geleias, doces de potes, compotas de frutas, caponatas e conservas de fermentados diversos, cafés arábicos de torrefação local, cervejas premiadas e chopp artesanais, drinks com frutas da estação, plantas medicinais, mudas de árvores nativas, artesanato de aproveitamento de madeira, biofertilizantes, adubos orgânicos.
Além disso haverá gastronomia com frutos do mar, vindos de famílias de pescadores tradicionais da cidade, como risoto e bobós de camarão e de shitake, charcutaria e linguiça artesanais. E para mostrar que a produção agroecológica pode ser adaptada a diversos tipos de culinária, os expositores também apresentarão um pouco das cozinhas baianas e mexicana, e tudo com tempero especial cultivado por essa turma da agroecologia niteroiense.
“Trata-se da oportunidade de o município oferecer espaços democráticos onde a população poderá conhecer de perto os protagonistas que desenvolvem sistemas alimentares saudáveis e sustentáveis em Niterói, de modo a se criarem pontos de comercialização de alimentos e produtos desenvolvidos de forma justa, integrada e equilibrada aos ambientes naturais e urbanos da cidade, fomentando inclusive os setores econômico, cultural e turístico do município”, explica Isabella Fattori, coordenadora de Agroecologia Urbana da Secretaria de Meio Ambiente de Niterói.
Ela explica que um dos compromissos da Secretaria de Meio Ambiente, através da Coordenação de Agroecologia, é a implantação do circuito em equipamentos públicos para que o produtor possa expor e vender sem custos, se inserindo na agenda cultural da cidade.
Niterói conta atualmente com 22 produtores familiares inscritos no Cadastro da Agricultura Familiar (CAF) do mapa, colocando Niterói no ranking das cidades com maior número de produtores familiares com CAFs urbanas ativas no estado do Rio de Janeiro.
A partir das ações de implementação do Programa Municipal de Agroecologia Urbana, a expectativa é que esse número seja ampliado, de forma a viabilizar aos produtores o acesso às diversas políticas públicas direcionadas ao desenvolvimento e fortalecimento da agricultura familiar, que são instrumentos de redistribuição de renda, como o PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) e o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos), cujos recursos, através dos produtores familiares habilitados, possam ser investidos na economia do município interagindo com outros segmentos na cidade.
Respaldados pela lei municipal, os produtores podem ampliar a comercialização de seus produtos, antes restritos pela falta de certificação, a partir de Certificado de Serviço de Inspeção Municipal (SIM), emitido pela Vigilância Sanitária através de um selo para atestar a qualidade de alimentos de origem animal produzidos por pequenos produtores agroecológicos de Niterói.
A criação do SIM é uma das iniciativas do programa de incentivo à agroecologia, que está sendo implantado pela Prefeitura de Niterói. Através de pesquisas e mapeamentos de como vivem esses produtores na cidade, realizados por técnicos da Secretaria de Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Sustentabilidade (SMARHS), o município estuda a criação e implantação de políticas públicas de apoio aos produtores para incentivar e fomentar a produção rural urbana na cidade e a venda em maior escala.
Os produtores rurais trabalham em sítios ou chácaras em corredores produtivos em localidades como: Muriqui, Pendotiba, Sapê, Rio do Ouro, Chibante, Vila Romana, Alto do Muriqui, Jacaré, Várzea das Moças e Engenho do Mato e Tibau.
“A agroecologia tem um papel muito importante dentro deste cinturão produtivo. Muitos estão em áreas de amortecimento e a reduz o impacto ambiental negativo e recupera serviços ambientais dentro do tripé da sustentabilidade. Essas pessoas recuperam e mantêm essas áreas. Não é só no ganho de emprego e renda, eles estão próximos às áreas de proteção, mas também mantém as áreas verdes cada vez mais seguras”, afirma Rafael Robertson, secretário de Meio Ambiente.
Presidente do Instituto Agroecológico de Niterói (IAN), Ricardo Nery observa que gradativamente a agroecologia vem crescendo gradativamente na cidade, a partir das políticas públicas desenvolvidas para alavancar o setor.
“Estamos perto do momento em que os produtores poderão se cadastrar para participarem, inclusive, de concorrência para fornecimento de merenda escolar. Sabemos que a cidade é protegida ambientalmente e possui essa política de união entre o poder público e os agroecologistas. Queremos ser reconhecidos como produtores. Os agricultores, além de poderem ter sua produção reconhecida para venderem para grandes redes ou lojas, são trabalhadores que cuidam para que não haja degradação ambiental. Eles produzem e fazem seus subprodutos como geleias ou queijos a partir de frutas ou leite. Ou até mesmo fornecem entre eles. Tudo isso produzido de forma sustentável” explica Ricardo.
Histórico – A SMARHS realizou, em 22 de fevereiro de 2022, ação de cadastramento dos produtores familiares agroecológicos do município no banco de dados da Prefeitura de Niterói, convocando, por meio de jornal de grande circulação e das redes sociais da Prefeitura, todo e qualquer produtor agrário urbano que produza e/ou beneficie alimentos e/ou insumos agrícolas no território municipal, com o objetivo de identificá-los, de conhecer suas necessidades e realizar ações de incentivo à produção agroecológica e ao pequeno produtor e empreendedor familiar de Niterói. A previsão é que outras ações de cadastramento sejam realizadas em regiões diversas em 2023.
Produtores vibram com novas possibilidades de serem conhecidos pelo público
Lívio Marques Pinto é geofísico e, após percorrer o mundo trabalhando, se aposentou e hoje se dedica a criação de tilápias e ovos caipiras, café, além de produzir cerveja artesanal em sua chácara no bairro de Várzea das Moças. São três tanques que chegam a produzir cerca de 3 mil tilápias a cada seis meses. Os tanques ficam no alto da propriedade e, na parte de baixo, fica a fábrica da cerveja.
“Fazemos tudo de forma sustentável, desde o reuso da água para as tilápias, utilização de gigogas, escovas biológicas e com todo o cuidado ambiental. É muito importante o produtor ter esse apoio. Faz a economia girar”, disse.
Do outro lado do cinturão produtivo, no Muriqui, está Wilson de Freitas Dias. Ele e a esposa – a advogada Eloina Pimentel – trabalham no chamado projeto de permacultura, que é o incentivo de agroflorestas nas propriedades com hortas verticais.
O Projeto Ecovils Muriquiaçu, que também produz cogumelos, ovos caipiras e verduras da época, como taioba e ora pro nobis, também vai participar do circuito. “Esse apoio é muito importante. Agora vamos começar a ser vistos”, disse Wilson, que mora há 7 anos no local.
Matheus Coimbra Osório, trabalha há 10 anos com agricultura urbana em agroflorestas, com foco na produção frutífera. Ele dá as dicas para a agrofloresta.
“Utilizamos o sistema para dinamizar processos por andares. É uma cadeia. A agroflorestal, no nosso caso, prioriza a produção de cacau, cupuaçu e café, com até cinco vezes mais produtividade do que a monocultura com esse sistema. Aproveitamos o espaço da floresta com andares. Com isso no alto temos frutas nativas que trazem de novo a micro fauna para dentro da agroflorestal, como passarinhos, macacos, roedores. Os animais ajudam não só na adubação, mas também em toda a dinâmica florestal porque a agrofloresta é viva”, orienta.
Sávio Evaldo Costa de Azevedo se dedica a charcutaria e em casa produz de forma artesanal, presunto, tender, copa-lombo, lombo, salame com empresa familiar.
“Estamos na expectativa de receber nosso selo para expandir mais mercadorias, agregar mais valor e poder colocar no mercado formal, tirar do serviço só para consumidor direto e poder inserir a produção em supermercados”, disse Sávio que desenvolveu uma salsicha só de lombo suíno sem adição de gordura, 30% de legumes e verduras e não tem componente químicos. Ele afirma que o produto é tão bom que a filha de 15 anos consome no café da manhã.
Fotos: Douglas Macedo
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