Veterinária orienta sobre polêmica na contenção de gato em entrevista da seleção brasileira
Segurar felino pelo cangote é incorreto e pode provocar dor, medo e estresse
No último dia sete de dezembro, foi realizada coletiva de imprensa com o atacante Vinícius Júnior, na concentração da seleção brasileira, em Doha, no Catar. Eis que, em determinado momento, um gato surge em cima da bancada e o assessor da CBF,
Vinícius Rodrigues, segura-o pelo cangote e costas para jogá-lo no chão. A cena, que assustou admiradores e profissionais que trabalham com felinos, causou muitas críticas nas redes sociais, já que essa forma de contenção é inadequada e não recomendada por veterinários que estudam práticas amigáveis no manejo de gatos.
De acordo com a médica veterinária Priscila Mesiano, a situação de visibilidade internacional foi um retrocesso, no que se considera atualmente como trato ideal à espécie.
“Esse tipo de contenção não é recomendada há alguns anos e existem vários profissionais que estudam comportamento felino tentando modificar essa visão de manejo agressivo na população para algo mais afetuoso e respeitoso. Quando acontece um fato como esse com pessoas que deveriam dar o exemplo em um ambiente de tanta abrangência, é como se tivéssemos dado vários passos para trás”, explica.
Segundo a profissional, que é membro da Associação Brasileira de Clínica de Felinos, da International Society of Feline Medicine, da American Association of Feline Pratictioners e atende na Clínica Amigo Bicho, em Petrópolis, segurar o gato pelo peso dele pode acentuar problemas de saúde, provocar dor, medo, estresse, angústia e ansiedade ao animal.
“A mãe carrega o gato pelo cangote para lá e para cá, enquanto ele é filhote. Apenas essa situação é aceitável. Não deve ser reproduzida por seres humanos, principalmente se o animal for adulto”, enfatiza.
Atualmente, existem diversas técnicas de contenção aprovadas pelo programa internacional Cat Friendly Practice (Prática Amigável ao Gato), tanto por tutores, quanto por profissionais que realizam procedimentos em clínicas veterinárias. Em casos como o ocorrido, com carinho realizado anteriormente em um animal manso, o simples uso de uma mão no tórax e a outra como suporte para as patas traseiras seria suficiente para deslocá-lo de lugar.
Para animais mais ariscos, a orientação é envolver o corpo do animal com uma toalha dobrada, deixando o focinho de fora para respiração, mas ao mesmo tempo que os dentes não possam alcançar a mão do manipulador e as patas não possam se movimentar.
Sendo assim, a contenção passiva é o ideal porque não gera medo e mantém no gato a sensação de que ele está no controle. “Gatos merecem respeito a sua natureza e particularidades. Também é preciso respeitar os profissionais que, com anos de estudo, vêm mudando os consensos das práticas amigáveis para os tratamentos com felinos”, finaliza Priscila.
Em tempo, felinos estão por toda a parte, enquanto há pouquíssimos cães nas ruas do país árabe, que sedia a Copa do Mundo de 2022. Dados apontam que a população de gatos na região é quase igual à humana. São quase 3 milhões de habitantes, enquanto a população felina é estimada entre 2 e 3 milhões, de acordo com estudo publicado em 2016 pela Universidade Hamad Bin Khalifa.
Uma das explicações pode estar no islamismo, que considera o gato sagrado, ao mesmo tempo que o cachorro impuro. Outro fator predominante é que não há leis ou movimentos sociais que amenizem a situação de maus-tratos e descarte de animais na localidade.
Foto: divulgação