Angra dos Reis oferta acolhimento para a população em situação de rua
O município conta com um Centro de Atenção à População em Situação de Rua e com uma equipe de Abordagem Social para atender este público
Em cada rosto uma história, na maioria das vezes arruinada por algum tipo de vício que entra na vida como um “remédio” para curar feridas, mas que acaba causando a dor da solidão. Este é o retrato da população em situação de rua no Brasil, que cresceu 38% entre 2019 e 2022, quando atingiu 281.472 pessoas, de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Angra dos Reis vem fazendo sua parte para amenizar esta situação. Nesta sexta-feira, 20 de janeiro, a equipe técnica de abordagem da Secretaria de Desenvolvimento Social/Secretaria Executiva de Assistência Social, com o apoio de vários setores, percorreu alguns locais do Centro.
A equipe ofereceu a esta população a oportunidade de ser acolhida no Centro de Atenção à População em Situação de Rua (CAPR), no Bracuí. O local pode acolher 25 pessoas e tem características de sítio, oferecendo cama, banho quente, refeições, exames médicos e expedição de documentos.
O primeiro requisito para se tornar um morador do Centro de Atenção é querer. A porta de entrada é o CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social). Segundo a assistente social Barbara Lucas, a pessoa em situação de rua pode ingressar no abrigo de duas formas.
– Além da equipe de abordagem, a pessoa pode ainda procurar o CREAS de forma espontânea e, a partir daí, começam os procedimentos. A equipe técnica avalia o perfil de cada um. Não precisa apresentar documentos. Em seguida, ela passará por cuidados médicos e, por fim, será encaminhada para o Centro de Atenção à População em Situação de Rua, no Bracuí – informou.
Ao chegar no abrigo, o agora ex-morador de rua é acolhido pela equipe e passa a integrar a família. De acordo com a coordenadora técnica do CAPR, Lúcia Helena de Lima e Silva, várias histórias tristes foram transformadas em superação.
– Desde 2002, a casa está aqui com a missão de receber essas pessoas e incentivar o retorno delas à sociedade. Aqui eles têm banho, alimentação e podem sair para trabalhar e retornar no fim do dia. Cada um faz seu tempo de permanência no abrigo. É emocionante fazer parte disso. Pessoas que chegaram aqui e a gente acha que não vai recomeçar e consegue emprego, família, supera as dificuldades. Posso não ser nada para mundo, mas posso representar o mundo para alguém – frisou.
O catarinense Flávio Evair Machado tem 53 anos e mora há quatro anos no abrigo.
– Vim para cá com o objetivo de vender pano de prato, mas não deu certo, meu dinheiro acabou, fiquei sem lar e procurei o CREAS. Tudo muito organizado, fui muito bem acolhido e aqui estou. Não tenho nada a reclamar. Aos que estão na rua, eu digo: existe lugar para ficar. Aqui as pessoas conseguem emprego, se aposentam. Eu mesmo me aposentei aqui. Rua não é legal – destacou.
Carlos Alexandre tem 37 anos e está no CAPR há três meses.
– Eu sou de Volta Redonda. Um amigo meu que mora lá e trabalha em Angra e perguntou se eu queria mudar de vida. Então eu respondi que sim e aqui estou. Usava drogas na rua, me distanciei de filhos e netos, mas pretendo retornar à vida normal, livre de vícios. Serei eternamente grato a todos do abrigo – agradeceu.
Horácio dos Remédios Costa, de 73 anos, é um exemplo de superação. Após perder trabalho e se afastar da família devido ao alcoolismo, ficou na rua por três anos até ingressar na casa em 2002, ficando por seis meses. Nesse tempo largou o vício, arranjou um novo emprego, onde se aposentou e formou uma nova família.
– Alguns amigos insistiram tanto para que eu viesse para o abrigo quando eu estava na rua que eu acabei aceitando. Fui muito bem recebido. Consegui dar a volta por cima. Hoje tenho minha aposentadoria, minha casa própria, minha filha tem 17 anos, muito estudiosa. O CAPR me salvou – reconheceu.
De acordo com o secretário de Desenvolvimento Social e Promoção da Cidadania, Eduardo Sampaio, o trabalho é feito de forma humanizada e conta com uma equipe de abordagem social que atua em todos os bairros da cidade, oferecendo acolhimento às pessoas em situação de rua.
– Por determinação do nosso prefeito Fernando Jordão e do nosso secretário de governo, Cláudio Ferreti, trabalhamos com o objetivo de oferecer acolhimento às pessoas em situação de rua. Um trabalho humanizado, com muita responsabilidade, para cuidar dessas pessoas que tanto precisam do nosso governo – comentou.