Brasileiros parcelam sem planejamento e enfrentam risco crescente de superendividamento

O parcelamento de compras já se tornou um hábito enraizado entre os brasileiros, mas a falta de controle financeiro sobre as prestações preocupa especialistas e entidades do comércio. De acordo com uma pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), mais da metade dos consumidores com compras parceladas (52%) não faz qualquer controle sobre o pagamento das parcelas.

A situação é considerada crítica pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Petrópolis, principalmente diante do dado alarmante de que 33% dos entrevistados enfrentaram problemas de crédito no último ano por atrasos no pagamento. Em janeiro de 2025, cerca de 69 milhões de consumidores estavam com compras parceladas — em média, cada um deles tinha 4,6 parcelas em aberto, número ainda elevado apesar de uma ligeira redução em relação a 2023.

O cartão de crédito segue como o meio de parcelamento mais utilizado, representando 69% das operações. Modalidades como o PIX parcelado vêm ganhando espaço, mas ainda de forma tímida. Com o crédito mais acessível, o risco de compras por impulso cresce: 65% dos entrevistados admitiram adquirir produtos sem planejamento, especialmente roupas e itens de supermercado.

Segundo o presidente da CDL de Petrópolis, Claudio Mohammad, o parcelamento pode ser um aliado do consumo consciente, mas exige responsabilidade. “O parcelamento pode ser uma ferramenta útil, desde que utilizado com responsabilidade”, alertou.

O estudo também aponta que 34% dos consumidores comprometem até metade da renda mensal com dívidas parceladas, o que coloca parte da população em um ciclo de alto risco de superendividamento. Apesar de 76% afirmarem estar cientes das suas dívidas, 47% evitam novas compras por já estarem com contas acumuladas, enquanto 44% têm medo de perder o controle das finanças.

Com 81% dos consumidores sendo constantemente abordados com ofertas de crédito, a combinação entre acesso facilitado, impulsividade e falta de planejamento transforma o parcelamento — antes aliado do consumo — em uma armadilha silenciosa para milhões de brasileiros.