“Casa da Morte” se transforma em Memorial: uma luta por memória e justiça no Brasil

Em uma iniciativa histórica que visa resgatar e preservar a memória dos crimes da ditadura militar no Brasil, o Governo Federal e a Prefeitura de Petrópolis formalizaram na última semana um convênio que irá transformar o infame imóvel conhecido como “Casa da Morte” em um Memorial de Liberdade, Verdade e Justiça. Localizada no bairro de Caxambu, a casa foi um dos principais centros clandestinos de tortura e assassinato durante o regime militar, que perdurou de 1964 a 1985.

Com um investimento de R$1,4 milhão da União, a primeira fase do projeto contempla a desapropriação do imóvel, que já teve o processo judicial iniciado pela Prefeitura. As negociações entre as partes, intensificadas em janeiro, marcam uma vitória após mais de 10 anos de luta, unindo esforços do poder público, Ministério Público Federal e diversas entidades da sociedade civil.

A importância da criação do memorial é corroborada por declarações de pessoas que sofreram na carne as consequências da repressão. Inês Etienne Romeu, uma das sobreviventes, passou mais de três meses aprisionada na casa e denunciou suas atrocidades, trazendo à tona a memória de um período sombrio da história brasileira. Infelizmente, Inês faleceu em 2015, mas seu legado e a coragem de muitos outros que enfrentaram a repressão agora voltam a ser ouvidos.

“A desapropriação do imóvel conhecido como Casa da Morte já foi ajuizada pela Prefeitura com a finalidade de criarmos um Memorial de Liberdade, Verdade e Justiça. O convênio com o Ministério dos Direitos Humanos é uma grande vitória e um sinal de que a luta por justiça e verdade não é em vão”, ressaltou Marcus São Thiago, secretário de Governo da Prefeitura de Petrópolis. Para ele, a construção do memorial é uma forma de preservar a história e impedir que os erros do passado sejam repetidos.

Durante os anos de repressão, a Casa da Morte foi validada por relatos de tanto vítimas quanto de militares que atuaram naquele período, que confirmaram o uso do local para práticas de tortura e assassinato de militantes políticos. Embora ainda não existam dados oficiais sobre o número de pessoas que passaram por ali, muitos continuam a buscar justiça e memória sobre os desaparecidos.

A resistência por parte da cúpula militar e a luta contra o esquecimento se farão viver nessa nova casa da memória. O memorial que será erguido no local servirá não apenas como um espaço de reflexão sobre os horrores do passado, mas também como um alerta sobre a importância da defesa dos direitos humanos.

A criação desse espaço será também um convite à população e às futuras gerações para que reflitam sobre os limites da liberdade e a importância da vigilância contra quaisquer formas de opressão e cerceamento de direitos.

A cidade de Petrópolis, rica por sua história e tradições desde os tempos do imério, foi berço de conflitos variados na política, tendo sofrido intervenção em clubes quando Getúlio Vagas via o município como lar de alemães na Segunda Guerra Mundial e o Coral Concórdia, um dos mais antigos do país e que saudava a chegada de Dom Pedro, abriga um piano dado por Joseph Goebbers, chefe da propaganda nazista. Alguns figurões da ditadura militar mantinha residências na região, como o brigadeiro Eduardo Gomes e o ex-Presidente João Batista Figueiredo.

Enquanto a obra do memorial não se consuma, a sociedade civil e as vozes dos sobreviventes continuam a clamar por justiça e verdade, firmes na esperança de que um passado de dor possa se transformar em um futuro de liberdade e respeito integral à dignidade humana.