Crescimento das apostas online no Brasil ameaça economia e saúde pública

As apostas online, popularmente conhecidas como “bets”, estão deixando de ser apenas uma forma de entretenimento e se tornando uma preocupação crescente de saúde pública no Brasil. Especialistas e empresários vêm alertando sobre os impactos desse fenômeno, que tem sido tema de destaque em entidades como a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Petrópolis. O presidente da CDL Petrópolis, Cláudio Mohammad, é enfático: “O governo precisa tratar o assunto como uma emergência em saúde pública.”

De acordo com dados apresentados pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, as transações financeiras direcionadas a plataformas de apostas, via Pix, aumentaram mais de 200% desde janeiro deste ano. Esse crescimento alarmante levanta preocupações sobre o comprometimento financeiro de diversas famílias, principalmente aquelas de baixa renda e beneficiárias do programa Bolsa Família.

Um estudo da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) revela que o gasto mensal com jogos e apostas online chega a R$ 6 bilhões, envolvendo cerca de 40 milhões de consumidores. Esse cenário, antes distante da realidade de muitos, afeta diretamente o cotidiano de inúmeras famílias cujo orçamento já é fragilizado pela atual conjuntura econômica.

O impacto é visível: em agosto de 2023, o número de inadimplentes no Brasil atingiu 67,73 milhões, conforme levantamento da CNDL/SPC Brasil. O Banco Central apontou que o valor médio das apostas variou entre R$ 100 e R$ 3 mil. O que agrava ainda mais a situação é o fato de que aproximadamente cinco milhões de beneficiários do Bolsa Família destinaram cerca de R$ 3 bilhões para apostas, representando 15% dos recursos recebidos, cujo auxílio médio é de R$ 681.

Um projeto de lei em tramitação no Congresso busca proibir o uso de pagamentos de benefícios sociais em apostas virtuais. Contudo, entidades comerciais clamam por medidas mais rigorosas. “É devastador para o comércio local. As pessoas estão comprometendo grande parte de sua renda em apostas, deixando de consumir produtos essenciais”, destaca Claudio Mohammad.

O efeito das apostas vai além das finanças pessoais, impactando diretamente a economia local. A CNDL estima que o valor total gasto pelos brasileiros em apostas online alcançou R$ 68 bilhões, contribuindo para o endividamento de mais de 1,3 milhão de pessoas. A queda no consumo, especialmente em setores como alimentação, vestuário e calçados, gera uma reação em cadeia, resultando em menos contratações e aumento do desemprego.

“A desaceleração do comércio local compromete toda a economia”, afirma Mohammad, que defende uma regulamentação mais rígida para o setor de apostas e a implementação de políticas de educação financeira, visando conscientizar a população sobre os riscos envolvidos.

A CDL de Petrópolis, alinhada com outras entidades empresariais em todo o país, pede uma ação conjunta entre governo, associações e sociedade civil. “A inadimplência afeta a todos. Quando uma pessoa não consegue pagar suas contas, a cadeia econômica inteira é prejudicada”, conclui o presidente da CDL.

Além do impacto econômico, o vício em apostas está relacionado a problemas sociais graves, como a deterioração da qualidade de vida e o aumento dos conflitos familiares. A urgência de uma ação coordenada contra essa epidemia se torna clara, exigindo uma resposta abrangente para proteger não apenas o bem-estar financeiro, mas também a saúde coletiva de milhões de brasileiros.