Diagnóstico de transtornos mentais na infância exige cuidado e capacitação profissional

O diagnóstico de transtornos mentais em crianças e adolescentes é um desafio que exige atenção e precisão. Dados do Ministério da Saúde apontam que 10% a 20% desse público enfrenta algum tipo de transtorno mental, sendo que muitos casos permanecem sem diagnóstico por anos. Essa demora pode comprometer o desenvolvimento e a qualidade de vida, resultando tanto na subestimação de problemas reais quanto em diagnósticos excessivos, levando a tratamentos desnecessários.

A neurologista e professora da Unifase/Fmp, Carla Gikovate, alerta para a necessidade de uma abordagem criteriosa na identificação dessas condições. Segundo ela, um diagnóstico correto permite intervenções adequadas e evita que famílias fiquem desorientadas diante de comportamentos que podem ser confundidos com transtornos. “Diagnósticos errados trazem estigmas e atribuem identidades que nem sempre condizem com a realidade da criança”, enfatiza a especialista, destacando a dificuldade de acesso a profissionais qualificados e a frequência de diagnósticos imprecisos, especialmente em autismo e TDAH.

Com o aumento da conscientização sobre saúde mental, torna-se essencial diferenciar traços de personalidade de transtornos clínicos. Nem todo comportamento atípico indica uma condição médica; muitas vezes, reflete apenas a diversidade do desenvolvimento infantil. Para garantir uma avaliação precisa, consultas regulares com pediatras são fundamentais, permitindo o acompanhamento contínuo da criança e o encaminhamento adequado para especialistas quando necessário.

Buscando capacitar profissionais de saúde e educação na identificação precoce de sinais de transtornos mentais, a Unifase/Fmp lançará um curso de atualização em abril, com duração de quatro meses. A formação tem o objetivo de fornecer embasamento teórico e prático para que os profissionais realizem avaliações preliminares e orientem as famílias de forma mais segura. “Nosso foco é a atualização baseada em evidências e um olhar multiprofissional, promovendo discussões sobre casos clínicos do cotidiano”, afirma Carla Gikovate, reforçando a importância da colaboração entre diferentes especialidades para garantir o bem-estar de crianças e adolescentes.