Editorial: Tragédia no Rio Grande do Sul acende alerta para verão no Rio de Janeiro

Recentemente, o Rio Grande do Sul enfrentou enchentes severas devido às fortes chuvas na região. As chuvas intensas resultaram em um aumento significativo do nível dos rios, transbordamentos e alagamentos em várias cidades do estado. O número de mortos por conta da tragédia chegou a 47, segundo novo balanço da Defesa Civil do estado, divulgado na manhã desta terça-feira. A consequência do desastre reacendeu o alerta a uma cidade que viveu há um pouco mais de um ano na mesma situação.

No sul do país, as regiões mais afetadas foram principalmente as regiões norte e noroeste do estado. Cidades como Uruguaiana, Itaqui, Quaraí, Alegrete, São Borja, Santa Rosa, São Francisco de Assis, São Luiz Gonzaga e Rosário do Sul foram algumas das localidades em que os impactos das enchentes foram mais significativos. Essas regiões foram particularmente afetadas devido à sua proximidade com rios e cursos d’água, que transbordaram devido às intensas chuvas. As águas dos rios subiram rapidamente, causando alagamentos em áreas urbanas e rurais, danificando infraestruturas, residências e afetando a vida das comunidades locais.

Distantes 1.492,2 quilômetros, o que assemelha as tragédias do Rio Grande do Sul a Petrópolis, por exemplo, é o fato das duas regiões terem grande quantidade de rios e córregos presentes na região. A bela Cidade Imperial viveu o terror no dia 15 de fevereiro de 2022, quando uma enxurrada que durou aproximadamente quatro horas, praticamente paralisou o município e matou mais de 250 pessoas. Outra questão levantada e que relaciona as duas partes é com relação a necessidade de fazer mais obras de contenção em locais considerados críticos. Enquanto os sulistas ainda contam os prejuízos – que ultrapassam R$ 1 bilhão de reais -, Petrópolis segue fazendo obras em ritmo não desejado, o que acende o alerta para a chegada do verão.

Embora tenha havido obras em um dos lugares mais castigados em 2021, o Morro da Oficina e o recente pagamento a uma parte das famílias que viviam naquela região do Alto da Serra, há muito o que se fazer em Petrópolis. O túnel extravasor é apontado como um dos mecanismos existentes para retenção do aguaceiro que pode evitar enchentes que inundou praticamente todo o Centro Histórico. Aconteceu, também, iniciativas populares que se cansaram por esperar ajuda de governos: Chácara Flora, onde os próprios moradores se organizaram para construir um desvio para as águas da chuva, foi uma iniciativa que demonstra a força da população resiliente que já viveu outras tragédias com a chuva, como aquela do dia cinco de fevereiro de 1988, quando mais de 130 pessoas morreram, em sua esmagadora maioria, de deslizamento de terras.

O Rio Grande do Sul ainda tem um caminho pela frente até a sua recuperação. Como os trabalhos da Defesa Civil e de outros órgãos de prefeituras e governo estadual seguem em ritmo alucinante, os gaúchos podem aprender alguma coisa com o que ocorreu em Petrópolis em 2022. No entanto, podem aprender também que uma resposta demorada traz consequências terríveis para a população, que assim como na Cidade Imperial no sul terá ainda dificuldades em retomar a sua vida à normalidade. Por isso, a recente tragédia emite um sinal de alerta para o próximo verão, em que as ações precisam ser tomadas agora para evitar que a cidade escolhida por Dom Pedro I como a capital do Império brasileiro se transforme em um mar de lama e mortes.