Especial Paraty: O Berço da cachaça brasileira – descubra os sabores e histórias dessa bebida tradicional

Apreciando o sabor e a tradição da cachaça: Descubra os segredos por trás dessa bebida icônica. Em uma região conhecida mundialmente por sua produção artesanal.

Na terceira reportagem especial sobre Paraty, o RJ Post mergulhou no universo da cachaça. Conheça as histórias de alambiques centenários, os métodos de produção sustentáveis e os sabores únicos que encantam os apreciadores. Prepare-se para uma viagem irresistível ao mundo da cachaça, onde tradição e inovação se encontram em cada gole.

Paraty e cachaça

Ao falar de Paraty, é impossível não mencionar uma das bebidas mais apreciadas pelos brasileiros: a icônica cachaça. A cidade ganhou reconhecimento internacional devido à qualidade e criatividade desenvolvidas ao longo de séculos por seus moradores. O Rjpost foi em busca de conhecer duas das cachaçarias locais para entender como essa marca do Brasil é produzida.

Antes de mergulhar no funcionamento desses estabelecimentos, é preciso voltar ao passado, quando Paraty já se destacava como um dos principais centros de produção da cachaça. A cidade, tombada como patrimônio pelo IPHAN em 1958 e pela Unesco como patrimônio misto em 2018, teve seu início como um importante polo açucareiro durante a colonização do Brasil, a partir de 1530. Os portugueses já dominavam as técnicas de plantio e processamento da cana-de-açúcar.

Foi no processo de fabricação do açúcar que os escravos realizavam a colheita da cana e, após o esmagamento dos caules, cozinhavam o caldo em enormes tachos até obter o melado. Durante o cozimento, era produzido um caldo mais grosso, chamado de cabaça, que era comumente servido junto com as sobras da cana para alimentar os animais. À medida que os métodos de produção foram aperfeiçoados, a cachaça passou a ser fabricada para atender às pessoas que seguiam em direção a São Paulo ou Minas Gerais, mas antes apreciavam a famosa pinga parintinense. Ao longo dos séculos, Paraty manteve essa tradição e tornou-se conhecida em todo o Brasil pela qualidade de suas cachaças. O nome Paraty se tornou sinônimo de cachaça de excelência.

Mas o que torna a cachaça de Paraty tão especial? Alguns acreditam que é a própria cana-de-açúcar, cultivada entre a serra e o mar, que possui menor teor de sacarose, conferindo ao líquido um sabor mais apurado. Outros afirmam que a frescura da cachaça recém-produzida, que não absorve as propriedades da madeira, é o que a torna única. De qualquer forma, em 2023, a cachaça é um símbolo de sucesso para a economia local.

Um dos mais recentes alambiques da região, o Pedra Branca, se orgulha não apenas de produzir uma das melhores cachaças do país, mas também de ser autossustentável em todas as etapas de fabricação. Desde a cana-de-açúcar utilizada até o melaço produzido no local, tudo é cultivado nas proximidades desse espaço bucólico e atrativo. Lúcio Gama Freire, empresário local e residente da região, passou por uma transformação de vida até se tornar um dos mais importantes gestores desse setor.

Formado em engenharia civil, Lúcio decidiu estudar profundamente sobre a cachaça e incorporar elementos ambientais em seus negócios, pois seu objetivo é tornar todo o espaço sustentável, seguindo as normas ambientais. Tudo o que é produzido ali é reaproveitado, desde os subprodutos destinados à cachaça, como álcool 70 e combustível, que são parcialmente utilizados em sua frota de veículos. Além disso, o melaço é uma atração à parte na cachaçaria e atrai muitos turistas estrangeiros.

“Todo o nosso processo de produção segue critérios rigorosos de sustentabilidade ambiental. Após a colheita da cana, ela é encaminhada para a área de transformação em cachaça, enquanto o melado e a bagaça são separados para outros fins. Temos uma área de compostagem que alimenta as caldeiras responsáveis pela produção de energia, o que nos permite economizar lenha. O que não nos serve é transformado em adubo e usado no plantio da cana. Tudo aqui é aproveitado, o que nos traz respeito ao meio ambiente e viabilidade econômica”, explicou Lúcio Gama.

Na Pedra Branca, os visitantes podem desfrutar de uma degustação de uma ampla variedade de tipos de cachaça. É possível experimentar a cachaça ouro, com um sabor amadeirado, ou a Gabriela, famosa em Paraty e no exterior por ser uma receita exclusiva do município e uma homenagem ao filme com o mesmo nome, estrelado por Sônia Braga. Um espaço delicatessen atende aos clientes mais exigentes que visitam o local.

Outra cachaçaria visitada pela equipe de reportagem não fica atrás do alambique próximo à sua sede. A Cachaçaria Patarinense também tem uma enorme relevância na região e recebe turistas quase diariamente. Situada em meio à natureza, o alambique está no coração da Mata Atlântica. É um local refrescante, onde o aroma da cana se mistura com o cheiro do mato. Lá, os visitantes podem conhecer os barris de envelhecimento, acompanhar de perto o processo de fermentação e explorar os tonéis. Toda a produção é feita na própria cachaçaria, desde a moagem até o engarrafamento.

A Cachaçaria Parintinense tem visto seu crescimento na produção nos últimos anos, após o período pós-pandemia. O alambique criou novos rótulos, com características especiais que foram reconhecidas em diversos concursos internacionais de degustação de cachaça. A empresa conquistou novos mercados no Brasil e no exterior. Para consolidar essa história de sucesso, o alambique investiu na ampliação de sua capacidade de produção e na estrutura de armazenamento e envelhecimento dos rótulos, sempre mantendo o mesmo cuidado que inspirou sua criação.

Atualmente, além do Pedra Branca e do Parintinense, outras sete cachaçarias estão em pleno funcionamento em Paraty: Alambique Coqueiro, Cachaçaria Corisco, Alambique Maria Izabel, Cachaçaria Maré Cheia e Engenho D’Ouro.

No entanto, a história revela que desde 1700 a cidade abrigou mais de 100 cachaçarias, estabelecendo recordes no universo dessa popular bebida verde e amarela. Visitar os alambiques e participar dos passeios programados é um programa imperdível para quem está na região.