História de amor e superação marca rotina de casal cego no Centro Dia de Saquarema
Todas as manhãs, Célia Maria Gorito dos Santos, 77 anos, e Celso Martins dos Santos, 81, caminham juntos até o Centro Dia de Saquarema. Ela segura seu braço com delicadeza, enquanto ele, mesmo sem enxergar, guia os dois com a confiança adquirida em mais de seis décadas de convivência. O gesto simples revela uma história de amor e cumplicidade que atravessa o tempo e os limites físicos, fortalecida por uma vida inteira de superações.
O encontro entre os dois aconteceu ainda na infância, em um internato no Rio de Janeiro. Ela, filha de imigrantes italianos de Mendes, nasceu com a mesma cegueira do pai. Ele perdeu a visão antes dos sete anos. Foi no Instituto Benjamin Constant que o afeto floresceu: entre aulas de Braille e conversas discretas, nasceu uma relação que ultrapassaria os desafios da vida.
Com cinco filhos e uma trajetória marcada pelo trabalho duro — ele como camelô e ela dedicada ao lar — o casal enfrentou preconceito, dificuldades financeiras e moradias precárias. Depois de mais de 20 anos em Nova Iguaçu, chegaram a Saquarema em busca de tranquilidade e acolhimento. No Centro Dia, encontraram muito mais do que atividades para a terceira idade: redescobriram o prazer de viver com autonomia, respeito e afeto.
Hoje, Célia e Celso participam ativamente de oficinas de pintura, aulas de artesanato e exercícios físicos, convivendo com outros idosos em um ambiente que combate o isolamento e estimula a autoestima. Segundo Joice Terra, secretária municipal de Desenvolvimento de Saquarema, o espaço é uma importante política pública de valorização do envelhecimento ativo e da independência na terceira idade.
A trajetória do casal emociona e inspira: é a prova de que o amor, quando alicerçado no cuidado mútuo e na resistência, é capaz de atravessar qualquer escuridão — e de iluminar vidas por onde passa.