Quilombola do Campinho da Independência: cultura de resistência e ancestralidade marcam espaço rico em conhecimento e culinária

Na Rodovia Rio-Santos, na altura do número 577, existe um dos mais importantes recantos de ancestralidade e cultura de resistência no Brasil: é o Quilombola do Campinho da Independência, na bela Paraty, onde uma população descendente dos escravos mantém os costumes de seus antepassados de acesso à população em geral. É o símbolo de luta por um espaço onde se esconde um pedaço da história do Brasil.

No final do século 19, com a decadência do regime escravocrata a história do Campinho da Independência foi escrita por três mulheres: vovó Antônica, tia Marcelina e tia Maria Luíz, que com base no regime matriarcal, conduziram o processo de desenvolvimento local. Nos anos 70, com a construção da rodovia Rio-Santos, a rápida valorização da região e conseuentemente o surgimento da especulação imobiliária, a comunidade se reorgnizou, tendo como foco a luta pela garantia de seu território, conquistado com a entrega do título de propriedade definitivadas terras pelo Governo do estado do Rio no dia 21 de março de 1999.

A data da entrega do título foi marcante, já que coincide com o Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial. É o resultado de uma briga que assegurou às 150 famílias em 287 hectares de terras organizados em 13 núcleos familiares, cercados de beleza da Mata Atlântica. Essa garantia do direito à terra em que viviam as pessoas escravizadas durante o período do Brasil Império, muitas delas que foram fundamentais para a construção daquela que conhecemos hoje como o município de Paraty. Não foi fácil todo esse processo que culminou com a vitória do povo originário do Brasil.

“Quando a rodovia foi construída, creceu o interesse de antigos donos de terra e especuladores imobiliários que viram ali uma oportunidade de ganhar dinheiro e montar resorts”, disse o presidente da associação local, Ronaldo dos Santos, de 44 anos, uma liderança que até hoje luta para manter intacto um paraíso para muitas pessoas que moram lá e vivem do alimento que em boa parte é produzido na região. Segundo ele, ainda existe pressão de empresários que tentam contestar a titularidade do espaço apesar de todo o processo de reconhecimento por parte do Governo Federal já ter sido concluído. “A titulção nos dá a segurança jurídica que permanecermos vivendo onde nossos parentes trabalharam e moraram desde os tempos do império”, acrescentou Ronaldo.

O Quilombo Campinho da Independência é um caldeirão cultural onde a administração soube, com muita inteligência, transformar o local em um ponto turístico e, ao mesmo tempo, formas de sustento financeiro. Lá, foi montado um restaurante aberto ao público com comidas típicas dos tempos dos indivíduos que foram escravizados. É possível comer uma boa feijoada feita por cozinheiras quilombolas nos mesmos moldes dos tempos de seus bisavós; peixe na taioba é outro prato muito requisitado pelos visitantes. Além disso, é possível adquirir lembranças como artesanatos produzidos por empreendedores denttro dos princípios da economia solidária. Exite também um roteiro turístico Etno ecológico, que articula direta e indiretamente os quilombolas em torno da produção econômica solidária.

Como resultado de boas práticas econômicas e socio ambientais, o reestaurante foi premiado em 2007 – ano em que foi criado – pelo guia Comer e Beber. Inclusive, tornou-se uma referência para turistas brasileiros e estrangeiros que visitam Paraty, pelas suas atratividades que encantam os que experimentam um pouco da cultura quilombola. O empresário paulista Afrãnio dos Reis Tito, de 49 anos, trouxe a esposa e três filhos para almoçar na região e não escondeu a satisfação em conhecer a cultura local. “A comida aqui é sensacional, além do espaço que é muito bonito, cheio de natureza e história brasileira. Recomendo a todos que venham ao quilombo para aproveitar as maravilhas oferecidas. É a terceira vez que venho a Paraty e a primeira aqui, e certamente irei voltar mais vezes”, concluiu Afrãnio.