Supercélula surpreende o estado do Rio com tempestade atípica em dezembro
Antes mesmo do início oficial do verão, o estado do Rio de Janeiro foi impactado na segunda-feira (16) por um fenômeno climático raro e poderoso: uma supercélula. Conhecida como a “mãe de todas as nuvens”, essa formação meteorológica é responsável por tempestades severas, ventos intensos, chuvas torrenciais, granizo e, em alguns casos, tornados. Sua ocorrência no estado fluminense e no mês de dezembro despertou a atenção de especialistas em meteorologia.
Segundo Ernani Nascimento, professor de meteorologia da Universidade Federal de Santa Maria e um dos maiores especialistas em tempo severo no Brasil, a presença de uma supercélula no Rio de Janeiro, especialmente nesta época do ano, é incomum e surpreendente. “Certamente esse caso será estudado, chamou bastante a atenção dos meteorologistas”, comentou.
As supercélulas são formações gigantescas de nuvens que apresentam rotação, conhecida como mesociclone, um “motor” interno que mantém a tempestade organizada e intensa. Elas se formam a partir de condições específicas:
- Muita umidade e instabilidade na atmosfera;
- Cisalhamento vertical do vento, quando ventos em diferentes altitudes sopram em direções ou velocidades distintas.
Essa combinação permite que o mesociclone crie fluxos de ar quente e frio que se mantêm separados, alimentando a tempestade e prolongando sua duração.
Apesar de ser raro, o Rio de Janeiro encontra-se em uma zona de transição climática entre regiões tropicais e subtropicais, onde há condições favoráveis, como alta umidade e instabilidade. No entanto, o cisalhamento, essencial para a formação de supercélulas, é menos comum no estado. “Essa combinação de fatores é mais típica de latitudes médias, como no Sul do Brasil, Uruguai e Argentina. Por isso, a ocorrência no Rio, e ainda mais em dezembro, é extraordinária”, explicou Nascimento.
O cientista também destacou que o contraste de massas de ar frio e quente, que favorece o cisalhamento, é mais comum nas estações de transição, como outono e primavera, o que torna o evento ainda mais atípico para o início do verão.
O fenômeno não foi completamente inesperado. A Plataforma de Registros e Rede Voluntária de Observadores de Tempestades Severas (Prevots) já havia emitido boletins alertando para o risco de tempestades severas em todo o estado do Rio.
Nascimento, que é carioca, revelou que essa foi a primeira vez que se sentiu compelido a alertar sua própria família no Rio sobre a aproximação de uma supercélula. “Considerei necessário advertir minha família no Rio para a aproximação de uma supercélula.”
Impactos e estudos futuros
Embora Nascimento ressalte que não é possível atribuir este evento isolado diretamente às mudanças climáticas, ele reconhece que o fenômeno será amplamente estudado por sua raridade e intensidade.
A ocorrência de uma supercélula no Rio de Janeiro em dezembro reforça a importância de sistemas de monitoramento e alerta para tempestades severas, especialmente em regiões onde esses eventos não são comuns. O fenômeno serve como um lembrete do poder da natureza e da necessidade de estarmos preparados para lidar com suas manifestações extremas.